25 janeiro 2009

Um Blues Nem Sempre é Triste

O texto que se segue requer algumas observações prévias. Escrevi-o na segunda metade de 2005, tendo como princípio a correspondência trocada entre dois portugueses que vivem afastados: um em Berlim outro em Nova Orleães. Depois de ter escrito algumas cartas, comecei a ficar sem ideias, sem saber como arranjar um final, se é que tinha de ter algum final... Depois acontece o inesperado. Em Nova Orleães, o furacão Katrina provoca um terrível drama humano. Infelizmente, tive matéria para terminar a correspondência... As três últimas cartas foram já escritas depois do furacão.


Nova Orleães, 5 de Julho de 2005
Uma vez disseste-me que gostavas de escrever canções de amor em noites quentes. Hoje está um calor de inferno. Gostava de ser como tu e transformar o calor em música. Que desperdício o inferno quando estás longe. Gostava de te ouvir dizer que aí também transpiras e que sem ar condicionado te custa dormir. E que te sentas em frente a um piano desafinado e fazes um blues. Comigo a música acontece quando ao regressar a casa, ao fim da tarde, vejo o calor a levantar-se das pedras e todo o ar cheira a queimado. São os fins de tarde em que, na minha cabeça, sou um negro sem correntes, e corro pelos campos de algodão que pus a arder gritando “liberdade”, num tom ritmado de esperança e dor. Sei que do outro lado está o rio, mas a minha liberdade não tem objectivos. E desapareço nas chamas ao som dos cânticos da sanzala, que ouço ao longe. Chego sempre a casa com uma sensação inútil de desejo. Inútil porque não o transformo em som, porque as palavras – estas palavras – são poucas e desajeitadas para dizê-lo. E porque penso que, se calhar, nem sequer vais ler esta carta.
Um abraço,
A

Berlim, 13 de Julho de 2005
Só existes tu nas noites de canções de amor que não chego a escrever. E, por consequência só existo eu. Não importa se há quem se julgue mais privilegiado, mais completo. Poder dizer-te que é bom ter música na ponta dos dedos sabe-me a um milagre. Gosto das tuas palavras ajeitadas e reconcilio-me sempre com os teus abraços. Dizes que gostavas que as notas te saíssem harmoniosamente. E eu respondo-te que gostava de ser esse negro a correr pelos campos de algodão. Mas tenho de me resignar a fazer a banda sonora, apenas. E o pior é que as canções de amor tardam. Aqui o calor não é muito e as florestas estão demasiado longe para se deixarem ouvir morrer. Há muito silêncio por estas paragens. Tanto que custa interromper. O meu piano continua afinado, à espera de melhores dias. A liberdade é também paciência.
Um abraço,
B

Nova Orleães, 18 de Julho de 2005
Os teus abraços são também liberdade. Se me esperares com a porta da sanzala aberta, juro que não desisto até te levar comigo para a beira do rio. Deixamos o coro e as suas lamentações para trás. Já não me importaria com a música e a sua espiritualidade se apenas precisarmos dos nossos braços entrelaçados para chegarmos a um princípio mais fresco. Nunca pensei que a música na ponta dos dedos te acorrentasse. Mas agora que o sei, peço-te desculpa pelo meu lamento. Podemos viver sem blues, se quiseres. Ao fim ao cabo, é melhor deixar a tristeza nos campos de algodão.
Um abraço,
A

Berlim, 25 de Julho de 2005
Compreendo, pelas tuas palavras de compaixão, que ignoras que não existem destinos forçados. Os abolicionistas não fizeram mais do que estar a meio do caminho dos libertados. Vou continuar no meu quarto de derrota, onde não podes chegar, apenas porque não sabes como ou porque não te soube eu mostrar o caminho. Mas não te preocupes. Um blues nem sempre é triste. E é sempre possível quebrar a corrente do medo. E perceber, finalmente, que não é a harmonia dos sons mas a sua intensidade que nos comove.
Um abraço,
B

Nova Orleães, 30 de Julho de 2005
Não é a harmonia nem a intensidade dos sons que me comove, mas o seu desencontro. Acreditas mesmo num destino antes de ti, eu não. Mas admito: a vontade de querer forçar o destino é imprudente e megalómana. Nunca acreditei noutras entidades que não o indivíduo. No meu mundo não existem pares, nem grupos, nem famílias ou agregações. Então porquê a minha necessidade de partilha, de querer libertar-me contigo? Esta cidade é estranha. Vivo o seu quotidiano de uma forma apaixonada, mas não te consigo falar dele. Construo imagens de cenários possíveis e nestes, trabalho a minha imaginação e o que me liga a ti. Os arrebatamentos surgem em estados de espírito assim. Quando leio as tuas cartas é quase sempre de noite e já passei pelos bares de sempre onde o embaraço da descontracção alheia me faz fugir. Começo a achar que a distância propicia o controlo. Este será, talvez, uma arma de defesa. Ou de arremesso. Como o amor.
Saudades,
A

Berlim, 5 de Agosto de 2005
Talvez os apátridas se procurem em todos os gestos quotidianos. Lembro-me que no passado Abril, corri todas as floristas para comprar um cravo. Não encontrei. Não sei como se diz cravo em alemão. Também procuraste um, no passado Abril?
Abraço,
B

Nova Orleães, 12 de Agosto de 2005
Hoje tropecei num mendigo negro que pedia sentado à porta de um café. Caí e praguejei em português. Ele olhou para mim e ajudou-me a levantar. Tirei um dólar do bolso para lhe dar, mas ele abanou a cabeça numa expressão de cansaço e virou costas. Senti-me frágil e inútil como se tivesse deixado de compreender tudo, ou como se tivesse começado a compreender tudo. Não sei de que lado estou, se tenho sorte ou azar, se pertenço ao grupo dos privilegiados ou ao dos que nada têm. Por isso, estou à margem de tudo, entre lucidez reveladora e a dúvida insolúvel. Entre o céu e o inferno, o melhor sítio para se estar, como diz um blues antigo. Não estava assim em Abril passado, quando pedi à minha vizinha do lado que me desse um dos cravos vermelhos que cultiva no canteiro em frente a casa. Perguntou-me para que o queria e eu falei-lhe da revolução. Disse-me que o seu país também precisava rápido de um Abril, o que me comoveu. No dia seguinte, ao passar pela sua janela, vi que tinha posto um cravo numa jarra e o exibia em cima da cómoda. Tem chovido muito por aqui. Já não sinto o cheiro da madeira queimada.
Abraço,
A

Berlim, 30 de Agosto de 2005
Pergunto-me se ainda vives. Ainda vives?
Saudades,
B

Nova Orleães, 15 de Setembro de 2005
Queria escrever-te até esgotar a musicalidade das frases. Percorrer todos os sentidos de palavras como “cravo”, “liberdade” ou “utopia”. Mas a água inundou o papel e a caneta. As palavras já não são palavras, são desespero. Deixei de lhes sentir o sabor, de as saber. Ainda vivo, não sei como… e no meu barco já não cabem mais crianças naufragadas. Faço parte dos que nada têm, agora sei-o.
Abraço,
A
FIM

Suicídios para Gardel

“O amor é não haver polícia”
Linda Martini


O meu quarto sabe a pessoas que se atiram do alto dos muros,
a tinta azeda a leite estragado
O meu quarto sabe a gente que entra e que sai
Trazem o Sol e levam o Sol
Com ar desinteressado desviam o curso dos rios
o nosso destino é escreve-los
O meu quarto sabe a veia inchada
A livro a escrivaninha, a nada

e não consigo dormir enquanto não entrar em toda esta gente
A conclusão aterroriza qualquer deus
as ninfas foram comprar pomada ao LIDL.

Nuno Brito, 2009

humanidade orgasmatic

A neve a entrar nos teus olhos de sol
sou eu
a humanidade orgasmática a suar, a vir-se
em quentes frios espasmos,
a neve que te entra nos olhos
Sou o que rejeita a publicação a Joyce,
a que tira as manchas de sémen nas camisas de Proust
a que abraça Rober Diaz, a que acaricia Borges
pessoas
com frio a transpirar
a consolar-se a cada perda
Sou esta humanidade inteira nuclearmente ansiosa de riso e de calor e o meu suicídio será um povo etnicamente puro pegar no seu míssil de prata -
o ditador come o seu iogurte de morango depois da limpeza étnica
também e ele as pernas tremem antes do genocídio
a gente consola-se à escala humana,
A mais perigosa a Maior
amor verdadeiro e amor verdadeiro

E sou tu, a ler este texto
e agora no rio está reflectida a nossa cara, a múltipla perspectiva
menina a arder com Messenger ligado

Nuno Brito, 2009

22 janeiro 2009

Poodleroyal








Álvaro Silveira
http://www.poodleroyal.com/

(IM)PERFEIÇÃO

Sentado sozinho em meu berço esplêndido e rarefeito,
Mergulho inconscientemente em minha consciência serena.
Debatemos abertamente sobre o tal do perfeito,
E percebemos o quanto a sua significação é pequena.

O perfeito é, concluímos nós, algo que foi feito
Com o intento de adjetivar e exigir sem pena
Dos que possuem qualidades segundo algum conceito
Concebido arbitrariamente pela hegemonia plena.

O perfeito não é o belo, o correto, o convencional;
Não passa de uma absurda falácia social,
Que acaba por fecundar desprezo e discriminação.

O perfeito se esvai pelo sufocar incessante do natural,
E a perfeição se torna ficção, algo virtual.
Exaltemos, então, a palpável e alcançável imperfeição!

O MONTE DE NADA

Observo pontos de incandescência manipulada
Dependurados em troncos de concreto
E acompanhados de gigantes de madeira
Que, constantemente, sintetizam os nutrientes
Que vão alimentar o Monte de Nada.

Cotidianamente, num contínuo vai-e-vem,
Movimentam-se as máquinas de carne,
Por si só ou levadas pelos seus fiéis
Escudeiros de lata dotados de sobrenaturalidade,
Adquiridos através do grande Monte de Nada.

Sufocado, o verde ontológico remanescente
Agoniza em meio aos troncos de concreto
E aos gigantes de madeira, enquanto
As máquinas de carne se preocupam apenas
Com a reprodução do soberano Monte de Nada.

Moribunda, a geóide de magma,
E juntas com ela, as alienadas máquinas de carne,
Aproximam-se do seu fim derradeiro,
Amargando uma derrota iminente, mas ainda evitável,
Para o completo e vazio Monte de Nada.

ATAQUE-SURPRESA

A mácula, resultado do golpe desferido pelo algoz,
suscita a dor e, imediatamente, o desejo de suprimi-la;
Remete à reflexão, à tentativa de dissecar e compreender
os motivos que engendraram o seu surgimento.

Em meio a variadas hipóteses, o sentimento latente
de que, aparentemente, nenhuma delas faz sentido.
A mágoa, e, à sua órbita, todos os seus atrozes companheiros,
ocupam toda a dimensão da alma, do núcleo às fímbrias,
trespassando os lugares mais recônditos.

O processo é lento e pungente!
Cada mínimo instante de tempo adquire assombrosa magnitude;
a certeza, a dúvida, o amor, o ódio, a indulgência, a impiedade,
um de cada vez e, às vezes, todos ao mesmo tempo,
transitam em um indivíduo confuso, degradado pelo ataque-surpresa.

O coração, mais uma vez maltratado, digno de pena,
resiste ofegante; anela a sua morosa mas indubitável recuperação.
No íntimo do ser, a consciência do cessar das trevas
e a espera impaciente pela próxima aurora.

18 janeiro 2009

Abismo à portuguesa - 3

Como um semi-deus atrasado mental e torto entrei no mais reles snack-bar de subúrbio
(do subúrbio do subúrbio) para pedir “abismo à portuguesa”
Enquanto consultava o jornal das notícias
veio o mais reles abismo estava eu ainda no relax – Porto – marquês
em travessa dourada e servido com a couve fresca
chegou o meu abismo totalitário que é de extrema direita e também é de extrema esquerda como qualquer outro abismo, Seco e Concreto

O vinho era tinto – acompanha sempre qualquer abismo.

Nas praias da Califónia o Sol vinha -se para cima de ti
em orgasmos múltiplos de estrela descontrolada e doida farta de brilhar para nada
Estrela doida estrela doida porque brilhas?
espasmástico o furor do espiritismo –
Vários olhinhos espreitam à volta
pequeninos e vermelhos os roedores lêem o jornal das notícias.
Qual escanção obrigado a provar veneno pelo salário mínimo
trago o abismo nacional e doido
um cavalo espicaçado a correr em círculos perfeitos
num transe infinito…
Vieste-te

16 janeiro 2009

12 janeiro 2009

Heath Ledger - um Globo. Um Oscar a caminho.

A vida não foi feita para ser levada tão a serio.
Live your life and smile!!!


Um encontro, uma acta.

Uma cidade acordada
um café no meio de uma rua
uma união informal. Uma espera.
um atraso. uma espera.
Um suborno com Mon Cheri's
uma água. Uma ressaca.
uma conversa, um riso, uma gargalhada.
uma mesa de tricó: uma, duas, três, quatro.
um Luís XIV com rastas
um atento vizinho. Uma oferta de Bombom
um olhar. Um sorriso maroto.
um jornal. Um Coetzee. Um casaco de pele.
Um par de óculos. um «tenho de ir».
Um sorriso. Um Adeus. Um atraso ao trabalho.
Um poema...

Um hino presente e nacional

A lua estava no pano escuro da noite
Havia sombras a passar nos imóveis e
o sonho a passar por ti! Quebraste por fim,
pomba morta, a noite de que não faço paz.

Os poemas continham tudo, sobretudo
alho, hoje cruzei contigo uma luz num
cantinho da cidade onde encandeia
um café sobre-morto em batas-fritas
e uma voz, vinte vozes a pedir-nos a nós
musiquinha, cheirinhos e vidrinhos.
Deixamos o continente porque afinal
nunca vimos a televisão, deixamos podres
os cantinhos dos caminhos dos avós
e das filhas que ainda não pariram por nós.

Xadai San: «Epitáfio Sobre um vivo»

O meu corpo estendido no chão, vertendo lágrimas imerecidas, provocadas pelo teu abandono, treme em convulsões. A alma foi-me expurgada do corpo... vazio, sinto-me vazio e sinto o vazio provocado pela falta do teu olhar. Um lamento... um choro, uma melopeia ecoa no quarto: Abraça-me! Conforta-me! Levanto os olhos do chão e fixo-os na escuridão. No quarto só a solidão me acompanha, qual cão de guarda fiel. Empurraste-me para o nevoeiro da tua indeferença e deixaste-me lá... lá, onde por mais que me chamem não encontro o rumo certo. Não existem estrelas que me guiem, pontos de referência que me façam seguro. Um lamento... um choro, uma melopeia ecoa no quarto: Abraça-me! Conforta-me! Tudo, tudo é o fim que conduz ao nada. Ilumina-me com a tua luz suave, sorri-me! Onde estás? Onde estás?!!!

Anna a que Matava


Anna a que Matava

Ouvi dizer que Modigliani
Desenhou essas tua pernas suaves
E que de ti usou e abusou no seu
Atelier em Paris.

Anna pensava que eras virgem
Como são virgens os teus poemas

Lançar-me em tuas palavras
É beber dessa tua falsa virgindade.


Nan Goldin - «Brian on the Toilet», NYC, 1982.


Sem titulo # 3


Branco negro

Cláudia Consciência

Escrevi-te uma carta em branco
Não a lês com os olhos
Só com a alma

Escrevi-te uma carta em branco
Porque gastei todo o negro
Para me pintar por dentro

11 janeiro 2009

Holocausto Tropical

“Limpa com os dedos o nariz, observa espantado o ranho, deita-o fora ou come-o, o teu gesto não terá ligação com o seguinte”
Jean Genet –Infernos

1

Comemos carne de porco no dia de festa
No dia de festa comemos carne de porco
E qual visita guiada ao Vietname da Alma as nossas festas atraem demónios
E eu manifesto habilmente a minha necessidade de escrever sem escrever
Ou seja viver, viver por ti adentro.
A tua cara tapada por um holocausto tropical

2

Fumámos ontem toda a Gaza –
Uma antiga cidade em mortalha de prata
Os anjos estão presos magneticamente a uma qualquer cidade celeste
Compra no LIDL – tem antenas de prata-
Numa das antenas da CNN urina um pobre cigano
Nunca será notícia

Abismo à Portuguesa - continuação

“Estranha forma de acordar que é estar pronto para dormir”
Manuel Cruz - Tanque


Sonha para mim um abismo dourado
Um abismo à portuguesa
Com toda a sua chama, toda a sua Vida
– Assim que houver abismo e assim que houver portuguesas com os seus cabelos sexys e mãos sexys e que com a sua linha dourada teçam o destino do nosso país.
O mar está fora de moda e nós estamos rodeados de mar…
Ao primeiro marinheiro que chegar ao nosso triste povoado – Hei-de apanhá-lo na doca
Fazer-lhe um broche à portuguesa – pô-lo louco – fazê-lo vir-sena minha boca –
dentro de mim A literatura vive
Gosto dos escritores que nunca escreveram, sobretudo esses me são favoráveis
Escritores que como Perseu entram nas melhores pastelarias de Montevideu para comerem bolos dourados e mijarem em urinóis de prata.
Mijam em urinóis de prata a dez quilómetros de Montevideu
quero mais do que a vida
Ontem vieram ter comigo homens tristes, acho que lhes dei confiança sou bem capaz disso
Aliás sou capas de tudo e tenho medo disso - nunca te apaixones por mim o mais provável é encontrares-me numa pastelaria de Berlim a fabricar bolos para os escritores comerem enquanto escrevem nos seus guardanapos isto e aquilo porque tudo é isto e aquilo mas será preciso dizê-lo? Esses guardanapos hão de servir de alimento aos pássaros que não debicam só migalhas, pelo menos os alemães, mas toda uma literatura, todos os guardanapos à saída da esplanada: toda uma literatura de vanguarda comida, reciclada, escondida, descoberta nos casacos dos mortos -- e eu a rir-me com sarah kane – ela ri-se e nós rimo-nos porque somos pessoas a sério ou temos medo de o ser - E porque temos casacos de marca e isso dá conforto.
Tenho um medo violento – Amo tudo quanto fluí tal Milton – do extremo do corpo ao extremo da alma – a experiência mais profunda – um abismo doce e alucinado à portuguesa –
(Como os teus olhos) para onde todos saltem à doida português atrás de português – do extremo do corpo digo –o mar está fora de moda
Mata agora os nossos marinheiros – o peixe está contaminado – a droga vem do mar – os cadáveres vem do mar – vem do mar a literatura triste do nosso país.
porque é que o mar vai e vem? Porque é que ele não fica quieto– a questão foi levantada por um filósofo



para Vitor Teves, Rober Diaz

Nuno Brito (acho) 2009

Liliana de Castro - Poesia

1.

Estrelas
A lua hoje está só e cheia
As estrelas cobrem a lua de dor e cor
Eu sou só pó
Eu estou só e cheia
A lua é uma ideia minha
Daquelas grandes ideias que surgem à tardinha
Eu sou só lua e estrelas
Tu és uma ideia minha
Que surge sempre à tardinha
As estrelas não me dizem por onde ir
Na minha ambição de me perder
Nas tuas estrelas
As estrelas cobrem a lua de cor e dor
Eu estou cheia e só de ti
Terra em vaso de estrelas
Tu a flor que sobe em ar
Com um esguio abraço
Tocas a lua cheia e só

2.

T-e-m-p-o
O tempo é este instante de tempo
Esta dança entre ser este e ser já outro depois
Danço no tempo
A vida é uma dança de estrelas
Danço no tempo
A vida num instante
As estrelas que dançam em mim
Eu danço nos intervalos da lua
As mulheres dançam na tarefa da dor
Dançam em ritmo no parto e no beijo
Dançam de cor
Sabem tudo de cor
Pintam tudo de cor
Danço no tempo
As mulheres são a vida a quatro tempos
A vida corre neste sorriso de papel
Deixo-te este sorriso por não te poder dar um abraço
(tempo para um abraço)
Deixo-te a vida no tempo incerto de um poema
Uma sutura de tinta na relatividade do tempo
A metafísica do teu beijo, do teu tempo
Esta vida que me corre
Tenho tempo
Todo o tempo
Muito tempo
Na calma doce e lenta
da espera do teu beijo de boa noite.

3.

A calma madrugada
onde as rotinas não existem
o nada é tudo
o sono, o sonho e os abraços
os laços
o amadurecer do silêncio na noite
o lugar do abraço
o relâmpago sonoro da dor
o mar, guardião de contos, aventuras e heróis
o lugar das fadas, das sereias e dos tesouros perdidos de piratas
guardo o mar no meu lugar interior
os meus lugares de calma
tu és o mar nos dias quentes
relâmpagos em mim que se moldam em cor
a energia em abraços
tudo o que não sabemos no mar
o mar em nós
a vida em pequenas partículas
quase invisíveis
grandes como nós

4.

Ponto.
Pronto
Foi-se o ponto
Fica a vírgula sozinha
As reticências esquecidas que não podem contar tudo
O travessão mudo
Dois pontos
Ou um ponto basta?
Interrogo a incerteza do ponto de interrogação
Que sabe mais do que pergunta
Exclamo com ponto
Exclamo sem ponto
Falta-me pontuação
Faltam-me pausas contigo
Pontos contigo
Reticências contigo
Dois pontos contigo
Ponto de interrogação
De exclamação
Em ti, sobre ti, por ti, sob ti
A única pontuação que existe é o beijo
O teu
Ponto

Ossétia do sul



Um homem cruza a fronteira do mal
No rasto poeirento dos tanques
Rompendo a fronteira de Deus
Reerguendo uma Babilónia feroz.

Um homem cruza a fronteira do mal
Ziguezagueando ao sol enegrecido
Imolando bonecos de palha
Rasgando um horizonte assombrado.

Um homem cruza a fronteira do mal
Doutrinando almas, incendiando corações
Com promessas de religiões solares
Aliciando os antigos que temiam as noites.

Um homem cruza a fronteira do mal
Destapando o véu doce do rosto feminino
Agora adorando longas botas pretas
Adornando pernas que estremecem a terra.




"advinhando" o que viria ..

Rembrandt - Art Institute of Chicago: Auto-retrato.


09 janeiro 2009

Buscando un ismo

Cerca de un ecepticismo exaservado
y más que propenso a un ataque de ira que de catatonía existencial,
ofrezco mi mirada de elefante espantado por un ratoncito,
mi zarpaso felino a una bola de hilo,
mi hululular fantasmágorico una noche de halloween,
mi pasito duranguense y un trago de tequila,

A todos esos que creen en los “ismos”
Lo sé, no me he manifestado en a favor del desarme,
Y eso es belicismo
Ni contra el calentamiento global,
Y eso no es ambientalismo
Porque he hablado inocuamente de las dictaduras,
Y eso es comunismo
Porque me declarado abiertamente ateo
Y eso no es cristianismo.
Finalmente porque aún creo en la revolución
Y eso es terrorismo.

Quién es culpable de Hiroshima y Nagasaki,
el genio de Einstein?
Quién es culpable por Chernovil y los cien mil tarados que generó?
Es lo mismo Stalin que Hitler, Fidel Castro y Sadán Hussein,
Quién enjuició a Pinochet,
Quién le sacó la lengua a Franco,
Quién escupió a Salazar,
Quién va a detener al banco Mundial,
Africa y un negro es igual a hambre y peligro
Quien es cualpable del culpable que se nos olvidó

Los virus cibernéticos son iguales a los del alma?

Para que no se diga que en nada he colaborado,
que solo he puesto mi cara indecente,
de pedófilo frente al crepúsculo,
de sibarita ante el hambre,
Porque he barrido el suelo por un par de nalgas con forma de maniqui,
en búsqueda de labios ansiosos de esperma,
de cariño que no vale nada,
por ser un suicida,~
sin pólvora,
sin filos,
sin alturas,
sin cuerdas,
sin ventanas abiertas,

En suma,
por tener tan pocas ganas de abrir los ojos,
y ver la realidad tan mojada de sangre,
y sueños húmedos,
querer secárlos
y por tanta arruga
mejor tirarlos a la basura.

Sí, soy culpable de detestar las ambigüedades de solución facista.
De declararme,
Moralmente incapasitado,
para poder destiniguir el PC de la Pc,
los EU de la UE,
OTAN rima con SATAN? ´

Yo me digo,
que prefiero ser un agujero por donde no pasa hilo,
una cerradura oxídada
un catalejo de lentes borrosos,
un anuncio de pasta de dientes sin sonrisas,
un cero a lado de un -1

Al final, tan sexy como un labio lepurino
desconsertante como la mirada estrabista
inrresistible como una coca-cola
a veces incomprensible como una película de David Lynch

Por último;
Y porque nunca dije:
tomen mi opinión y vendala,
toménla en cuenta,
aqui estoy,
quiero que me escuchen,
que me emulen,
que me levanten un túmulo que diga:
Salve, hoo Dios de la Apnea!

Digo: quizé parecer frío,
morbido,
calculador,
analista,
un maldito estratega,
un estúpido filosofo-cientista,
un hombre de estado,
sería más fácil ser un cobarde que copia poemas,
una secretaria cogiendo con su jefe,
un escritor limpiando baños
porque no quiere vivir de contar sus patrañas,

La verdad nunca dije que no fuera:
-un secuestrador-violador de estrellas de cine,
que al oído les dice:
es tú mejor filme,
disfruta porque esta es la más imemorable de tus actuaciones...esto es mejor que la realidad.

P:D. Siento vergüenza por nunca haber explicado algo hasta el colmo de preguntarle a mi interlocutor:

Tiene usted alguna otra pregunta acerca del tema?

-De eso no soy culpable-

05 janeiro 2009

Poema a Karadzic

Emagreceste
O teu olhar continua insípido como no passado
Os anos comeram a tua papeira
A morte chupa-te através dos ossos.

Dedicam-te poemas esses estúpidos poetas
Amantes de diabos azuis
Hoje, os teus pêlos ancestrais são esse fato
Tão aristocrático e tão político.

Tudo em ti é orgulho
Desde o queixo soerguido
Até ao poder indestrutivel do teu olhar.

Com Srebrenica ganhaste oito mil metros quadrados
De inferno só para ti
Que te importa a vida nesta tua misera moderna cela?
Salvar-te-ia neste meu poema, o meu coração é doce
Mas a meu lado a voz do Tempo sussurra-me ao ouvido:

Não passa de carne mole à espera da forca da Justiça.

Lamarim

Tão longe o mar de meus olhos
As ilhas perdidas na bruma

A ribeira deixou de subir
E tu, Lamarim, deixaste de nela lavar o pão.
A porta fechou-se, mas sei que a deixaste aberta.
Continuo a ver-te feliz por ela.
Lamarim onde estás para preocupares-te
Com a televisão que acabou de avariar?
As sopas que tanto odeias esperam-te no prato!
Terás ido a casa de tua filha ou
Bate-te o esposo, o filho, a nora?
se pudesse entregava-te a vitalidade juvenil
eternamente

(Lamarim esqueceste-te da marcação na cabeleireira
Para pintar de castanho o cabelo do teu menino)

Sabes, sem ti a ribeira secou, a rua ficou deserta
Fecharam-te a porta!
As minhas vizinhas já não riem, deixaste-as
Na monotomia da vida.
Às vezes, como hoje, sinto a tua falta.
És a ceifeira que um dia ofereceu-me uma pomba rosa
A qual guardo-a na caixinha do meu coração.

25 dia do teu menino Jesus, fim do teu sofrimento.

A Lagrimar continuam os meus dedos

Pelas minhas unhas escorre sangue!
As linhas que formam amadurecidas
Relembram-me o passado harmonioso que nao tive
Pingam os dedos no papel branco
Onde flui a minha vida.
Neste deslizar contido e fluido
Tento reanimar lentamente
as ilusões que se findam


A lagrimar continuam os meus dedos

04 janeiro 2009

Conto

O RoEntão, ele deu-me os seus olhos, num abraço muito forte.
Olhos negros de breu, raspando os meus.
Enrolou-se no seu ninho, escavado no rubro da terra que a noite banhara de negro.
E aí, olhou, lenta, enamoradamente o extenso céu da cidade vermelha.
Os pés descalços pendiam fora do buraco. Brincavam dedos nus no ar.
- Mi conta uma história… - pediu-me.
E eu enrosquei-me no pequeno ninho do menino e contei a mais bela história
que me lembrei. Uma história de mar escuro e verde, gelo glaciar,
de pés pisando aguarelas azuis, brancas e roxas … história de focas,
de ursos brancos caminhando pesada e lentamente sobre o alvo chão…
De baleias brancas e pinguins.
Tudo lhe parecia fantástico e misterioso
De casas feitas de gelo…
- Iguau à barraca de madeira minha e de minha mãe?
- Sim, como a tua barraca de madeira e a da tua mãe.
As suas mãos ásperas (ainda as sinto, arranhando a pele e o coração),
aqueceram-se nas minhas e pediu-me:
- Dorme comigo hoje, faz de minha mãe.
Disse que sim, mas não dormi.
A história que os seus olhos e corpo me contavam pesava-me as pálpebras.
E lentamente a fogueira que iluminava a noite apagou-se. Kapikanga, Kapiqueno, Moisés e tantos outros foram dormindo.
Meninos de rua, de rua, não, de cidade.
Luanda é gigantesca, não dorme, está sempre de vigia,
abrigando os poucos mantimentos que guarda, as roupas
que cobrem os corpos e as sapatilhas Nike sujas e rotas que alguns pés conservam.
Lembrei-me também do Makiesse, do Damião e do Pedrito,
dormindo nas carrinhas sem porta que a noite abriga.

E… lentamente…
O Sol vermelho, maior tesouro da cidade, apareceu,
como sempre aparece, bola de sangue suspensa na abobada celeste.
E os meninos acordam, saindo dos buracos do chão,
das carrinhas sem porta das ruas, das casas de cartão,
com plantas encostadas aos colchões e posters da Shakira
penduradas nas paredes.
E mais um dia recomeça.
Mais um dia percorrem as ruas da cidade, brincam
ao faz de conta: “perdem pés”, ganham pernas de pau
que lhes oferecem almoço; roubam cadeados e tapetes,
vendendo-os como novos na avenida principal.
E dançando pelas ruas, percorro com eles Luanda.
Cidade magnética esta. Ritmada, de vida intensa.
Amo as mulheres e seus lenços vermelhos e verdes,
com Jesus estampado nos tecidos. Amo as meninas de tranças
de contas azuis e rosas, amo as cabras passeando pelas lixeiras
a céu aberto e os cães de rua acompanhando, fielmente,
as crianças de todas as idades, seus companheiros.
Não, não sei se amo se apaixono.
Esta cidade abriu-me uma ferida que apaixona.
Pois ferida que apaixona não é ferida que ama.
A ferida que apaixona é forte e intensa, rasga bem lá no fundo,
é doce e dolorosa. E não se esquece, marca.

Mas a aventura aí começou, naquele local onde Deus e
o Diabo foram semeados, tal como sol e trovoada.
Eu e o menino apanhamos um candongueiro (táxi azul de Luanda)
e voamos para fora da cidade vermelha.
Viajamos pelas estradas de janelas abertas para as árvores
gordas daquele país: os embondeiros, para os macacos que
balanceiam nos ramos e os colibris que cantam e encantam
com o seu azul-turquesa.
O amarelo acre dos campos sem fim queimava os meus olhos.
Cansava a secura que cortava a imagem reflectida no vidro do táxi.
Foi então que ouvimos o som do mar. Belo som do mar.
Longínquo como se dançasse rodopiando num búzio.
Embriagados, mergulhados naquele som entramos na densidade dos campos de trigo. Quilómetros e quilómetros de cereais eram recurtados pelo jipe azul, desenhando o nosso percursso no áureo da planície.
Migalhas desfaziam-se no ar, como pó de estrelas, passeando, vaidosas, dando viravoltas e reviravoltas, balouçando seu traje, como rapariga nova de vestido novo por estrear.
E aí pedi ao menino para me cantar sua canção…
Ele abriu seu sorriso enorme, branco, na pele muito negra. Sorriso de luz, que só as crianças possuem, mas o das africanas é ainda maior, porque convivem, todo o dia, com a nudez do mundo.
“Toda a criança do mundo
Toda ela conhece o profundo
Criança, criança, criança
Entra no coração estrangeiro
Criança
Seu nome mais lindo
Trazendo sua nobreza,
Aproveita seu nome,criança
Qui educa à pessoa do mundo
Qui digam a toda a genti do mundo
Qui não há vida sem amô
Qui não, qui não
Qui não há vida sem amô”

Embalados na voz do menino fomos, eu e o motorista, nos perdendo naquele campo amarelado. “Qui não há vida sem amo” frase embriagando e entontecendo nosso olhar, os nossos ouvidos, os nossos sentidos, fazendo-nos esqueçer as coisas da terra.

Chegamos a um areal extenso, uma praia sem começo nem fim. Areal terminando num mar de azul líquido, reflectindo a abobada celeste. Aí, um navio estancara. Navio com vestes rotas, esburacadas. Navio ancião, contando a história do oceano depois de anos e anos balançando nas suas águas.
E então duas crianças apareceram. Primeiro, dois pontos negros, depois, ganhando pernas e braços, tronco e cabeça. Chegaram, despiram-se e nus, quebraram o lençol das águas do mar em mil estilhaços, tal e qual vidro partido por rocha negra.
E nós imitamo-los e entregamo-nos ao conforto das águas.

Nadamos durante horas e horas e a nossa intimidade foi-se perdendo. As águas contaram as histórias de cada um, revelando, sem piedade, tudo o que cada um de nós tinha de mais secreto.
Os meninos, de aldeia de pescadores, conheciam toda a areia daquela praia. A camisola e os calções que traziam no corpo, rasgada mas de cores fortes e vivas, eram o único par de roupa que possuíam. Mas amavam-no e zelavam por ele com todo carinho e preocupação que se tem por filho único. Quando se sujava, punham-na do avesso e exibiam-na como roupa nova.
Comiam o peixe que pescavam, nos delgados barcos, com os pais.
Tímidos, envergonhados, como gatos selvagens, mesmo depois da invasão das águas, ainda nos olhavam desconfiados.

I

Entre o azul do céu
e o céu da tua boca,

vai a distância de um beijo.

_________________________



Os rios são iguais a nós:

perdem a doçura do corpo
quando se aproximam da foz...


______________________


Já vivi___tantos poentes ,
como quantos dedos ___sujei ,
ao cavar___na terra
esta profunda incerteza
de não saber ,
quantas metas
ainda terei que cumprir ,
neste breve caminho
que é a vida .

Foz

Aqui alargo aquilo a que vulgarmente chamam silêncio.


O peso da água doce que suportamos, funde-se
quando nos perdemos à chegada.


Procuro ser breve, pois o tempo corre ao contrário
e já existem muitos pavores gastos.


Alcancei o lado de dentro sem nunca ter aprendido a esperar
que o milagre do dia resultasse quando não estavas:

Sobre os ramos que seguram este azul de partida incerta

Indiferente ao fumo saído das paredes, quando aquecidas pelo sol,
ou à poeira que a nossa pele liberta e nos desfoca o corpo

Na outra margem, como se a chuva esperada não viesse a tempo,
concentrada que está em não provocar nenhum rumor.


Agora estou pousado neste acabar de rio onde conto as estrelas
que te seguram à rota que os pássaros levantam,
quando se dirigem para Norte.


Ainda sinto a mão branca da lua ao tentar adivinhar-te,
por isso, percorro-te como quem bebe um copo de água.

Mastigo-te demoradamente. Sofrendo vários venenos,
descubro o outro lado que não necessito de ti .

Renomeio todos os nomes que me ajudaram a trazer-te para dentro de mim
e verifico não existirem impulsos suficientes que provoquem novas vagas .


Saio devagar, à tona desta transparência que se adensa
num abraço de nenhum sítio.


Estarei fora apenas uma vida.


Regressarei quando fixar os teus olhos às portas do céu.

Garcia Lorca ou a memória do chão que elevado ao céu todos os astros sugou

Olho-te assim devagar. Prolongo-te,

no rasto incandescente do anjo
que espero ver erguer-se,
dos fios que as estrelas abrem
quando expostas na boca da noite.

Tento desvendar donde vem este vento,
convocado num silêncio leve
que a liquidez do fundo dos oceanos
parece querer estender,

retendo-me aqui coberto, em ascensão mansa pousado.


Nos passos agitados que não dormem, nunca.

Sempre começados
nos gemidos das manhãs cegas
e humedecidas pelas águas do Genil.


Subindo ao céu quente de Granada
que os teus pés viu por último pousar.

Nesse caminho imaterial
jamais por mim percorrido
mas cujo pó nele levantado,

os meus ombros fugidios fazem doer.


Ali quando o ar se parte e escuta
el Viento Oeste, que inquieto,
solta seus cavalos perdidos:

agora inúteis, cansados, galopam em manada.

Desenham-se no o teu corpo
há muito embalado pela terra vermelha. Envergonhada por naquele dia nada ter feito:

apenas receber-te em seus braços ensanguentados.


Na memória do chão que elevado ao céu todos os astros sugou.


Olho-te na luz que o levante traz.

Sempre embebida das tuas palavras mágicas
que hoje por onde passam tudo levantam.

Nas Cidades Brancas

Nas cidades brancas
que não têm mar,
navegam, todos os dias,
grandes barcos azuis.

Nas cidades azuis
que não têm mar,
navegam, todos os dias,
grandes barcos brancos.

Na minha cidade
que tem mar ,
que uns dias é branca
outros azul,
ou todas as cores
que meus olhos querem ,
não navega nenhum barco.

___________________________



Quero-te apenas a ti
direita e vertical
como o sol

clamado pela terra.

Na frescura da água
que foi abençoada,
mas agora afoga.

Com influência

Com influências de psicotrópicos escrevo-te
um poema sem telefone.
Ligar-te a um vestido azul a uma fita de cetim
e escrever num lençol entre várias pernas
a mensagem do amor
(o doll o cão, o homem, lá está no meio das bonecas).
Querer amar-te é um
sinal da minha existência e o anseio
de tornar a dar vida ao ser. Para quê o amor?
Escrevo o teu corpo entre confusões e trambolhões…
Tem que se começar num papel branco e vazio.
Escrevo palavras a posse e o desejo.
Nas esperas da lua dão-se lunáticas
Luva nova para cortar o cabelo
Lua cheia para sacudir o pelo;

Sintácticas e tão acesas por lampiões da rua,
as ideias fixam-se no andar, sem alguém que
torne a dar chama à sombra do caminho.

torna
a solidão dos amantes num astro, a lua no sol.

Demarco e Atina

La tulipa, se mueve en el fundo enamorada por la mañana esta serena por la combustión. Su frescura es un encanto. Desnuda en el tiempo, sin calentamiento al sol. Perdida en su deseo volcánico de luz.

Te miro sin ojos y grito muy fuerte en el silencio de mis palabras que nunca con tus orejas podrás decir mas que con tu corazón que se queda como el mío. Aceitunas por siempre y para siempre.

A individualidade da nação

As nações são a prova da possível criação dos seres por parte do Homem mesmo pela essência da ridícula ideia, é claro que há a Mula dirá sua excelência leitor, mas nem aí uma nação não consegue chegar ao direito de competir com uma mula, mesmo a mula terá as suas vantagens, já que são seres que respiram já nesse conceito serão úteis à circulação normal da produção de oxigénio em dióxido de carbono e este último por sua vez em oxigénio, nem na simples conceito da circulação de ar uma nação é útil.

Uma mula, como ser quadrúpede poderá ter a sua utilidade, embora a humanidade nunca a venha a descobrir, já a nação a humanidade usa-a sem esta nunca mostrar uma única utilidade só para os néscios e os incapacitados esta mostra-se como a defesa do seu carácter e da sua capacidade como seres individuais. Ora vejamos: Um português é um marinheiro conquistador, esse caso é uma regra, e sem excepção, mesmo que este seja feio e tenha uma pila pequena e quem acredita nisto? Esses néscios! Criando muitos casos de frustrações sexuais, porque todo o néscio que se sustenta num mito colectivo é um ser de pila pequena, parece-me evidente e não merece muito sustentação, mas não me importarei de perder algum tempo nela – visto que o partilho a dois, entre mim e o indivíduo que estará a ler este texto miserável.

A pila está para o homem, como a energia está para as mulheres. Quantas mulheres nós nos livramos por não terem a energia suficiente? O leitor homem – exceptuando os pederastas – e as mulheres que se sentiram repudiadas pelo abandono de certo me compreenderão, assim poupo algumas linhas ao meu raciocínio e uma infatigável tarefa de explicar o óbvio e não imaginam como isto é fatigante fazê-lo a um homem. Voltando à pila pequena ou ao pilinhas – e deixamo-nos de questões anatómicas, essas podem ser explicadas por especialistas bem mais especialistas do que eu –
–, a necessidade do grupo aparece como um valor de carácter uno a todos isto é, o partidarismo enquanto qualidade colectiva representa os seres que pretendem ter valores em comum, e qual é a melhor necessidade de alguém se afirmar quando tem dificuldade de se afirmar, pertencendo a uma nação, esta aparece como o sustento do seu ser como um traço comum a todos. Se o português é um marinheiro fodilhão e miscigenador, logo por essa óptica qualquer português é um marinheiro fodilhão e miscigenador, mesmo sem nunca ter saído da sua terriola sem mesmo ter qualquer gosto pelo sexo oposto isto é, sem ter tido a necessidade da cegonha para ter um café com leite, mesmo esse será um português e sentirá as suas necessidades genéticas luso-afonsinas quando passar de porto para porto.

03 janeiro 2009

O Sublime em Cesare Pavese e Luis Miguel Nava

“I dwell in possibility -
A fairer House than Prose"

Emily Dickinson


Este exercício pretende mostrar os pontos de contacto e união entre dois excertos de textos de Cesare Pavese e Luís Miguel Nava. A frase de Pavese “A poesia começa quando um idiota diz a propósito do mar, parece azeite” manifesta uma reflexão sobre o que é de facto a poesia. Pavese serve-se do exagero e da hipérbole. A frase choca pela força do exagero, falamos de uma metáfora que exige sentido de abstracção.
O sentido de novidade e de liberdade de Pavese nesta frase manifesta-se sobretudo em contestar/quebrar todos os antigos estereótipos do mar bonança/paz/tranquilidade/ serenidade/ imensidão, lugares comum recorrentes e fáceis de imaginar.
É relativamente fácil colocar no mesmo verso as palavras “mar” e “imensidão”.
Pavese diz “Não é, de facto, uma descrição exacta de um mar bonançoso, mas o prazer de ter descoberto a semelhança, a exactidão de um liame misterioso, a necessidade de se gritar aos quatro ventos que de tal nos apercebemos”.
O sublime, o exagero, a ruptura e o sentido de novidade reflecte-se também em Luís Miguel Nave: “O mar / no seu lugar pôr um relâmpago”:
O “sublime” está aqui novamente presente, está em causa uma escala difícil de visualizar, mas cuja imagem é esplêndida de tão forte “o mar / no seu lugar pôr um relâmpago” – Os efeitos visuais que nos chegam são de uma grande força, a luz de um relâmpago num total abismo, um enorme clarão. O absurdo / O Gigantesco fazendo lembrar imagens míticas do Velho Testamento.
Tanto em Pavese, como em Luís Miguel Nava o sublime está presente. Nos dois autores transparece não só o sentido de ruptura, de novidade, de liberdade de espírito mas também a ideia de que nada pode ficar de fora na poesia. Tal como refere Emily Dickinson, a poesia é possibilidade, “uma casa mais justa que a prosa”.




Exercício elaborado no Workshop de Escrita Criativa - Reitoria da UP Setembro, Outubro 2008 com Ana Luísa Amaral

Diagnóstico pouco seguro de um deus côr de laranja - partes 8 e 11

• 8


O velho usa a energia nuclear para tosquiar ovelhas,
Tosquia-as com uma paciência infinita
Às vezes o reactor está avariado
Outras vezes pega no seu pente atómico e vai pentear macacos
Penteia-os muito bem, risco ao meio, um bocado de gel…

Gel atómico
Todos janotas, dispostos em fila!
Já estão prontos para assistir à conferência sobre a força do átomo

Uma vez em Hiroshima queriam tosquiar ovelhas
Mas falhou qualquer coisa
Houve um grande erro
As causas ainda estão por apurar
Morreram bastantes pessoas
Ficaram sombras especadas no chão
Sem corpo
Só sombras



• 11


O faraó passava as tardes a jogar tétris...
Os escravos empurravam as peças de acordo com um sistema de cordas,
As peças desciam à medida que os escravos iam soltando a corda dos rolamentos,
De acordo com as decisões do faraó os escravos tinham que rodar e encaixar as peças umas nas outras. Em baixo alguns escravos retiravam as que já não eram necessárias. O contramestre sentado num balcão dourado, decidia quais as próximas peças a sair. Acorriam espectadores do alto e do baixo Egipto e também vinham estrangeiros que estacionavam os seus camelos em frente ao grande templo de jogo para ver o faraó a jogar. Os escravos a serem chicoteados pelos capatazes, a rodarem as peças, a encaixá-las. Cada linha era celebrada pelo país inteiro. Os deuses estavam presentes no jogo, Eram invocados. O cheiro a incenso era fortíssimo…

Uma ideia para José Saramago

Porque não vir uma onda (daquelas que Melville e Conrad viram mesmo) e essa onda entrar por Portugal a dentro e engolir o nosso país com aspecto de uma cara triste, sempre melancólico e obssessivo ficar coberto de água.
Conseguem escapar as gaivotas e os poetas tristes nadam até uma França que espera a submerssão.
Não para apanhar ratos, "tipo anos 60" mas para produzir o modernismo visceral - tipo XXI que do México tal onda tsunami atinge uma costa portuguesa desprotegida mas com boas antenas.

02 janeiro 2009

Abismo à portuguesa

Para Vitor Teves


I.

Tenho medo que Jesus não me esporre hoje na boca
não me esporre hoje na boca senhor jesus!
Senhor jesus senhor jesus senhor Jesus
“Escrever é corrigir a vida”
E o esperma que escorre dos lábios de Maria
há de gerar um Semi-Deus Forte
feito para desenhar uma anunciação a tinta dourada

Trezentas mil ovelhas caminham rumo a um “abismo à portuguesa”
O decifrador de sinais vê nesta frase uma absurda falta de simbologia,
Ele sabe que eu adoro de uma forma bem primitiva um hitler recém nascido
Com as suas cuequitas apertadas e o rugido do mundo que clama por um Mão de Ferro

Deliro só de imaginar o seu doce esperma quentinho na minha boca
De Mona a Lisa
De Lenine

Ontem dei a mão a virgílio, Ele guiou-me pela tua boca,
Conduziu-me à máxima experiência humana,
O estremecimento de um holocausto digital
Bem fundo nos teus olhos
A Anunciação

01 janeiro 2009

A Revolução Industrial na Magna Grécia

Ensaio produzido por um sujeito colectivo que é Vítor Esser.


Nossa Senhora de Chernobill, de Minamara,
De Nagasaki
Dirijo-me a ti
A ti também, nossa senhora de Guatanamo


Nós, três pastorinhos belgas, irmãos da mesma mãe e mesmo pai, crentes no Espírito Santo, fomos procurar emprego numa pequena cidade industrial da fronteira com França, uma pequena cidade onde o sol é tapado pelo fumo das fábricas e onde todos os dias há aparições marianas, o nosso pai vendeu um rebanho para pagar dívidas de jogo, nosso pai bebia muito, a bebida não ajudava muito nosso pai – nós fomos a Chernobill procurar emprego numa central nuclear – vimos lá dentro Diabo a masturbar-se num reactor avariado.




Vou escrever como uma possessa através de ti, através das tuas mãos, sou Diana uma princesa grega, hoje é dia de natal na Magna Grécia, mas eu aqui sentada com todos os semi-deuses da idolatria aguardo o nascimento do cristianismo. Todos os dias naquele monte ali em cima vejo serem crucificados salteadores de túmulos e vendedores de serviços virtuais,
Todos pagam os seus pecados, vejo pedófilos tristes a verem o HI5 das meninas porcas às seis da manhã a olharem para o monitor. O pedófilo a pestanejar masturba-se para dentro de uma terrina, um vaso grego – que Diabo atira contra um muro – Porque o vidro está associado à solidão – porque o vidro separa …
Eu, sentada aqui ao lado de Diabo dito para ti –olho para o espelho e não vejo nada, sou um espelho a olhar para um espelho,

Existiu na Magna Grécia uma fábrica de espelhos em que todos os artífices eram cegos.


EU vi-te no youtube


Vítor Esser
Nuno Brito

Santíssima Trindade