09 março 2009

Zero

Um acto de fé
depositado numa seringa
larga de ponta cónica
por onde Deus passa a estilhaçar-se
chorando e comovido,
enfermo,
como um curativo de infecções
sem constatar
que ele era a ferida
que só poderia conter-se
ou suturar-se
que não tinha cura
muito menos crosta
ainda que não o aceitasse
ia sangrando a sua imensidade
fluía como a pus
causava-lhe dôr
sem poder restractar-se
suava como uma febre
Um acto de sobreviviência
abandonado no estrume
verde pestilento
cagado depois de um pequeno suspiro
onde Deus se recicla
regressa à Terra
tranquilo aguarda o sol
esquecendo a suas velhas dôres
sabe que foi uma contracção
a que abriu a realidade
que do ventre de alguém
se desatou
e foi mas que um alívio
pari-lo
senti-lo entre um vendaval e uma tormenta
a sua cabeça
a suas duas pernas
acomodando-se para que
ficasse sentado
diante da sua poderosa ambição
o mundo
diante da sua terrivel imagem
o homem
diante do seu injusto jogo
a vida
diante de um destino quebrado
o amor.